
Fachadas
As fachadas ecléticas do Palácio das Laranjeiras, projetadas no início do século XX, são ricamente decoradas, chegando a ser consideradas, esteticamente, de estilo barroco francês. Segundo Mário Henrique G. Torres, “estas fachadas constituem-se no mais importante exemplo da transposição entre nós do gosto eclético e, portanto, variado, que Garnier, o arquiteto da Ópera de Paris, soube praticar, em franca oposição à corrente racionalista em arquitetura, com uma criatividade e segurança de sentimento poucas vezes encontrada na maioria de seus seguidores, na França e em todo o mundo”.
A fachada principal, voltada para a rua das Laranjeiras, onde está parte da escadaria projetada, mas parcialmente construída, é composta por três portas envidraçadas em verga reta, no nível térreo dos terraços circundantes, encimadas por três outras portas em arco abatido, no andar superior, que se abrem para os balcões, contornados por balaústres em mármore de Carrara, e sobrepostos por óculos ovais ornamentados. Essa fenestração, entremeadas por colunas esbeltas e arquitraves, é ladeada por uma torre onde se localiza o belvedere, no ângulo com a fachada lateral do Palácio, voltada para o Parque Guinle. Coroando essa fachada principal, surge um domo com três mansardas, sobre as quais repousam águias metálicas. Esse domo principal possui um lanternim retangular, arrematado por um gradil metálico, ricamente decorado.
A fachada lateral, voltada para o Parque Guinle, é aquela que mais se destaca na paisagem urbana, seja por sua horizontalidade como pelo movimento entre os volumes da cobertura e das alas construídas do Palácio. Ainda segundo Mário Henrique G. Torres, “no corpo principal, a movimentação barroca de suas diversas partes, cada uma com seu próprio telhado, o avanço do pórtico de entrada, o jogo das curvas descritas pela balaustrada do terraço e pelas rampas, tudo isto cria uma atmosfera de sonho ou de palácio de contos de fada, que faz esquecer o que de excessivo e pesado tenham os motivos decorativos."
Restauro
Após a mobilização do canteiro de obras, foi iniciada a montagem dos andaimes para o início da restauração das fachadas do Palácio. Considerando o cuidado necessário para a realização desses serviços, decidiu-se pela restauração, uma a uma, dessas fachadas.
Revestidas por paredes rusticadas e uma diversidade de ornatos em argamassa, as fachadas foram minuciosamente avaliadas, através de percussões manuais, feitas com martelo de borracha, para a identificação das áreas com perda de aderência e para a sua consequente remoção pontual.
Gradativamente, foram sendo assinalados, nas plantas de elevação, os danos encontrados, assim como foram sendo feitos os registros fotográficos dos serviços.
Foram retiradas amostras pontuais das argamassas das fachadas, para análises laboratoriais e determinação da composição, traço e granulometria, que foi utilizada nas novas argamassas de recuperação das paredes.
Também foram removidas as pequenas vegetações arbustivas e suas raízes, que danificavam as fachadas, por meio da aplicação pontual de biocida.
Alguns elementos escultóricos das fachadas foram devidamente protegidos e aqueles que foram removidos do seu lugar de origem foram catalogados, mapeados, limpos e armazenados em local apropriado até sua recolocação final.
Foi feita a pré-consolidação das áreas degradadas, com uso de uma solução de água, cal e resina. Em seguida, foi iniciada a lavagem das fachadas, de cima para baixo, com água a baixa pressão. Onde permaneceram áreas com sujidades, foi utilizado detergente neutro com escovas de cerdas macias. Nas áreas com revestimentos marmóreos, foi utilizada nebulização através de bicos aspersores.

Aspectos gerais dos andaimes para restauração das fachadas. (Acervo Concrejato)

Proteção das balaustradas e pisos de mosaico, utilizando-se compensado e plástico para colocação dos andaimes (Acervo Concrejato)

Nas áreas com crostas negras, foram utilizados emplastros químicos pontuais, com posterior enxágue para remoção dos resíduos.
Também foram retiradas todas as intervenções nocivas e aquelas que comprometiam a estética original das fachadas, como redes elétricas aparentes, holofotes, dutos, toldos, escadas metálicas do tipo marinheiro, para acesso às coberturas, dentre outras.
Para reintegração das trincas e fissuras, foram abertas gretas, higienizadas com solução de água e álcool, utilizando-se seringas e agulhas. Em seguida, foi feita a consolidação das mesmas com injeção de solução de água de cal e resina. A denominada colmatação das fissuras das paredes foi executada utilizando-se argamassa fluída, também aplicada com seringas e agulhas apropriadas.
Nas rachaduras com grandes dimensões, foram colocados grampos em inox e tela de poliéster sobre o suporte da alvenaria e posterior recobrimento com argamassa de acabamento no traço determinado pelos testes laboratoriais.


Lavagem das fachadas com hidrojateamento a baixa pressão e limpeza de um ornato através do uso de emplastos químicos (Acervo Concrejato)
A recomposição das argamassas das paredes foi executada através da aplicação de uma camada de chapisco (areia grossa lavada, pasta de cal e cimento estrutural branco), uma camada de reboco (areia média lavada, pasta de cal aérea e cimento branco). Por fim, foi aplicada uma argamassa de recobrimento denominada finus (pó de mármore, pasta de cal e cimento branco), com trincha macia, para recomposição das marcações dos rusticados das paredes, que sofreram lixiviação e perda de material.
Foram realizados testes com a adição de pigmentos para compatibilização cromática entre as argamassas antigas e novas. Foi realizado um estucamento fluido, na tonalidade areia, aplicado nos panos de fundo, visando ao recobrimento das superfícies argamassadas que se encontravam lixiviadas, ásperas e porosas.
Foi ainda aplicada uma velatura, na tonalidade cinza claro, em toda a extensão das fachadas, abaixo das cimalhas, com o uso de aspersor manual, visando à consolidação de microfissuras e à mimetização das áreas com recomposição volumétrica e colmatação de fissuras. Após a execução dos procedimentos acima, foi aplicado, também por aspersão, um hidrofugante em toda a extensão das fachadas.
Quanto aos ornatos, a metodologia de restauração seguiu o mesmo princípio utilizado nas paredes, já que integram as fachadas do Palácio. Para os elementos faltantes, foram realizadas formas de borracha de silicone, de resina ou de gesso, conforme a necessidade e a dimensão dos ornatos a serem fundidos. Para essa fundição, foi utilizada argamassa de areia lavada, pasta de cal e cimento estrutural, e as novas peças foram fixadas com barras ou pinos de inox.
Alguns elementos decorativos foram recompostos in loco, obedecendo sempre à sua forma original. Ao final dos serviços de restauração, os ornatos também receberam uma camada de proteção com aplicação de um hidrofugante.

Limpeza dos elementos pétreos manchados por oxidação das esculturas metálicas. (Acervo Concrejato)
Galeria de fotos (clique para ampliar)
- Fachada após a restauração e remoção das árvores que danificaram o prédio tombado – Acervo Concrejato
- Fachada Lateral antes do restauro voltada para Parque Guinle: Destaque para o avanço do pórtico de entrada e balaustrada curva – ano de 2009 – Acervo Casa Civil – Imprensa
- Presença de árvores de grande porte muito próximas ao prédio que causaram danos às fachadas – Acervo Casa Civil
- Aspecto final da fachada principal após o restauro do Palácio – Acervo Casa Civil
- Grampeamento das rachaduras com uso de pinos de aço inoxidável e posterior recobrimento – Acervo Concrejato
- Grampeamento das rachaduras com uso de pinos de aço inoxidável e posterior recobrimento – Acervo Concrejato
- Moldagem de ornatos faltantes – Acervo Concrejato
- Aspecto das fachadas antes das intervenções: presença de toldos, sujidades e superfícies de acabamento desgastadas – Acervo Concrejato
- Proteção das balaustradas e pisos de mosaico, utilizando-se compensado e plástico para colocação dos andaimes – Acervo Concrejato
- Limpeza de um ornato através do uso de emplastos químicos – Acervo Concrejato
- Detalhe de sobreverga no início das intervenções restaurativas – Acervo Concrejato
- Aplicação de "velatura" por aspersão manual – Acervo Concrejato
- Limpeza de sujidade acumulada sobre ornatos da fachada – Acervo Concrejato
- Aspectos gerais dos andaimes para restauração das fachadas – Acervo Concrejato
- Processo de colmatação de fissuras – Acervo Concrejato
- Revestimento das paredes rusticadas decoradas com frisos – Acervo Concrejato
- Aplicação de acabamento nas superfícies das fachadas, denominado "finus" – Acervo Concrejato
- Lavagem das fachadas com hidrojateamento à baixa pressão – Acervo Concrejato
- Balaústres de argamassa deteriorados pela ação do tempo, causando oxidação interna e rompimento – Acervo Concrejato
- Detalhe de trecho da fachada após restauração feita com "estucamento" para compatibilização cromática – Acervo Concrejato
- Processo de limpeza de elementos metálicos da fachada – Acervo Concrejato