
Marouflages
As pinturas existentes nos tetos e paredes do Palácio das Laranjeiras foram encomendadas por Eduardo Guinle ainda em 1911, durante as obras de construção do edifício, e foram integradas à arquitetura segundo a técnica da marouflages, pertencente à categoria das pinturas murais.
Apesar da marouflage surgir entre o final do século XVI e início do XVII, as pinturas murais, de uma maneira geral, são encontradas em praticamente todas as civilizações, em distintos períodos da história da humanidade. Essa diversidade permitiu o desenvolvimento de várias técnicas e temas, resultando em uma forma de ornamentação que se utiliza até a atualidade.
As decorações pictóricas murais vêm desde o antigo Egito, feitas a partir de limo, argila, cal e gesso. Na Idade Média se destacam as pinturas das igrejas, com temas da catequese, passando ao Renascimento, quando o teto da Capela Sistina (1508-1512) é pintado por Michelangelo Buonarroti.
No período Barroco, Caravaggio, a partir das dificuldades na execução de pinturas em tetos, desenvolveu uma solução utilizando, inicialmente, telas que eram depois aplicadas no local, preconizando, desta forma, a “marouflage”. Atualmente essa técnica pode ser apreciada nas pinturas murais presentes no Palácio das Laranjeiras.
O extrato do documento abaixo descreve a encomenda da marouflage para a Sala de Jantar / Galeria Regência feita à empresa francesa Maison Bettenfeld, contratada por Eduardo Guinle, contendo os detalhes do pedido, a descrição das pinturas e a designação do artista A. P. Nardac.
“La partie central avec peinture exécutée sur toile et marouflée (toile de renfort), le sujet inspiré de plafond existant à L'Hôtel de Ville de Paris et intitulé “L'hymne de La terre au Soleil”. Cette peinture exécutée et signée par A.P. Nardac, artiste peintre, professeur à l’Ecole Nationale des Arts Decoratif de Paris.”
"A parte central com pintura executada sobre tela e esticada sobre lona, inspirada no teto existente no Hotel de Ville de Paris e intitulado “Hino da Terra ao Sol”. Esta pintura foi executada e assinada por A. P. Nardac, pintor, professor da Escola Nacional de Artes Decorativas de Paris.” (Tradução de Jaciara Grazybowski)
Ainda, o documento informa que no centro, um grande medalhão em forma oval, destina-se a servir como uma moldura para a pintura acima mencionada.
Outras marouflages são encontradas nos demais ambientes do Palácio como na Sala de Almoço, no Boudoir, no Quarto Luís XV, no Quarto das Crianças, no Hall de Entrada, no Salão Luís XIV, no Fumoir, na Sala de Música, no Salão Império e na Biblioteca.
Diagnóstico
Antes da execução dos serviços de restauração foi realizado o diagnóstico do estado de conservação das marouflages através de: registro fotográfico, mapeamento de danos, testes químicos de limpeza e análise com luz ultravioleta. Essas etapas serviram de diretrizes para o restauro.
- Análise das pinturas com ultravioleta
Outros danos foram encontrados nas marouflages do Palácio das Laranjeiras: sujidades, repintura, perda da camada pictórica, intervenções inadequadas, oxidação dos vernizes de proteção, danos físicos (rasgos, furos e rabiscos), craquelés, estufamentos, lixiviação, entre outros. Destaca-se também o descolamento da camada pictórica causado pela variação de temperatura, provocada pela iluminação artificial inadequada.
- Sujidades generalizadas. (Acervo Atelier Histórica)
- Impregnação de sujeiras por insetos. (Acervo Atelier Histórica)
- Repinturas anteriores. (Acervo Atelier Histórica)
- Áreas com perda de camada pictórica. (Acervo Atelier Histórica)
- Sujidade generalizada. (Acervo Atelier Histórica)
- Emassamento com encáustica. (Acervo Atelier Histórica)
- Verniz oxidado. (Acervo Atelier Histórica)
Restauração
Após a conclusão do diagnóstico, que apontou os danos ocorridos nas morouflages, foi iniciado o processo de restauração das pinturas. Os procedimentos começaram pela limpeza química, através de solventes e detergentes e, posteriormente, foram executadas as demais etapas do restauro: a consolidação de trincas e rachaduras, o preenchimento e nivelamento das lacunas e a reintegração pictórica pontual, com pigmentos e tintas especiais. Ao final, foi aplicada uma camada de verniz de proteção sobre as pinturas restauradas.
Galeria de fotos (clique para ampliar)
- Sala de Almoço, detalhe dos danos encontrados na pintura mural. (Acervo Hólos Consultores Associados)
- Sala de Almoço, antes e após a restauração. (Acervo Hólos Consultores Associados)
- Detalhe da Sala de Almoço após a restauração. (Acervo Hólos Consultores Associados)
- Sala de Almoço, antes e após a restauração. (Acervo Hólos Consultores Associados)
- Sala de Almoço restaurada. (Acervo Casa Civil) – Foto: André Mello
- Boudoir após restauração. (Acervo Casa Civil) – Foto: André Mello
- Detalhe da marouflage do Quarto Luis XV. (Acervo Casa Civil) – Foto: Shana Reis
- Quarto das Crianças. (Acervo Casa Civil) – Foto: André Mello
- Detalhe tetos do Sala de Jantar e da Galeria Regência com marouflage de A.P. Nardac. (Acervo Casa Civil)
- Hall de Entrada. (Acervo Casa Civil) – Foto: André Mello
- Detalhe da assinatura do artista A.P. Nardac. (Acervo Atelier Histórica)
- Detalhe da marouflage do Salão Luis XIV (Acervo Atelier Histórica)
- Assinatura de Georges Picard. (Acervo Atelier Histórica)
- Detalhe do teto do Fumoir. (Acervo Casa Civil) – Foto: Shana Reis
- Assinatura de Emmanuel Cavaillé-Coll. (Acervo Atelier Histórica)
- Assinatura de G. Picard na Sala de Música. (Acervo Atelier Histórica)
- Salão Império após restauração. (Acervo Casa Civil)
- Detalhe da assinatura de A. Karbowsky. (Acervo Casa Civil)
- Marouflage da Biblioteca, executada por Emmanuel Cavaillé-Coll. (Acervo Casa Civil) – Foto: Shana Reis