
Tapeçaria
As duas tapeçarias de Beauvais, do final do séc. XVIII e início do século XIX, pertencentes ao Palácio das Laranjeiras, já eram de propriedade de Eduardo Guinle quando da construção do mesmo.
Essas tapeçarias foram confeccionadas na técnica francesa de Beauvais, que é uma manufatura real, fundada em 1664 por Colbert, e que ainda hoje permanece ativa.
No documento contendo a descrição das encomendas pode-se observar que estas deveriam compor o Salão de Bilhar, hoje denominado Salão Império e que deveriam ser fixadas na parede, acima dos armários, dentro de molduras produzidas para esse propósito.
As tapeçarias representam cenas campestres, retratando pessoas e animais em contato com a natureza, árvores e riachos.
A urdidura foi elaborada com fios grossos de linho ou cânhamo, e a trama feita de lã tingida em várias cores para poder gerar as figuras. Foi utilizado tingimento com pigmentos naturais. Em algumas áreas distintas, as tapeçarias apresentam também trama de fio de seda para produzir pontos de luz nas figuras e animais. Essas tapeçarias possuem uma borda que imita uma moldura, mas que também são tecidas.
Diagnóstico
Ambas as tapeçarias encontravam-se com grossa camada de poeira e fuligem, o que causou grande ressecamento das fibras. Ambas também possuíam áreas descosturadas no encontro das junções das mudanças de cores.
Uma das tapeçarias, localizada na parede junto à Galeria Regência, apresentava grandes manchas brancas, provenientes de infiltrações de águas pluviais, advindas do telhado.
Conservação
Na impossibilidade da realização de um amplo projeto de restauro das tapeçarias, com profissionais qualificados, possivelmente da própria oficina da Manufatura de Beauvais, e na incapacidade de acondicioná-las corretamente em reserva técnica, optou-se por fazer uma conservação que focou na higienização e na estabilização dessas tapeçarias para que, posteriormente, seja executada sua restauração.
A atividade de conservação das tapeçarias do Salão do Império do Palácio das Laranjeiras consistiu na aspiração do pó e na costura de determinados pontos em que as urdiduras e tramas se romperam.
Foi utilizado aspirador portátil, com ponta protegida por tela de nylon e/ou tule, e aspirador de cano, onde a tela de nylon era fixada nas tapeçarias, evitando que o cano encostasse nas mesmas e as danificasse. As costuras foram realizadas com agulha curva e fio de seda utilizado em restauração de têxteis.
Foi ainda realizada a hidratação das peças, vaporizando uma solução de 50% de água e 50% de álcool etílico 70°, após a higienização. Durante a higienização foi verificado que ambas as tapeçarias encontram-se presas a um bastidor de madeira e possuem forro. Foi necessário aspergir várias vezes a solução de água e álcool, fazendo-se intervalos de uma hora, deixando secar, e reaplicando novamente.
A etapa de finalização do trabalho consistiu no tratamento tópico de vaporização de solução de 5% de ácido acético em água deionizada em toda a superfície das tapeçarias e, principalmente, nas bordas que estavam esbranquiçadas. O intuito foi o de realçar as cores, uma vez que o ácido acético é indicado para o tratamento de fibras proteicas (no caso a lã e seda), removendo totalmente as manchas esbranquiçadas.
Nas áreas das bordas das tapeçarias existiam alguns locais descosturados há muitos anos, gerando abaulamento desses locais. Devido à posição vertical das tapeçarias, uma vez que não foi possível removê-las das paredes, e por estarem presas a um bastidor de madeira, com moldura externa também em madeira, foi impossível costurar estas áreas. Com o intuito de unir e preencher a lacuna existente, minimizando o problema, foi colocado um linho com adesivo reversível (Lascaux 498), próprio para restauração de tecidos.
O linho adicionado à tapeçaria foi mimetizado com reintegração cromática, realizada com aquarela.